Ramos-Horta appeals to Lula da Silva to promote peace in Brazil and also in Ukraine

Jan 2, 2023 | International Relations, Presidency, Speeches

Portuguese

Lisbon, 03 Nov 2022 (Lusa) – Nobel Peace Prize winner José Ramos-Horta said today that Lula da Silva must combat polarization, calling Lula the ideal leader to pacify Brazil while also helping to resolve international tensions, as in the Ukraine.

“I don’t know President [Jair] Bolsonaro or his team. I hope that in defeat he will show that he is greater than what people think, a greater statesman than we all thought and will do everything to make the transition peaceful”, he said, in an interview with Lusa, José Ramos-Horta, visiting Lisbon .

The Timorese President praised Brazilian election winner Luiz Inácio Lula da Silva and his ability to stabilize Brazil.

“President Lula has always revealed his magnanimity, his sense of pragmatism”, said Ramos-Horta, recalling the politician’s career in the Brazilian presidency: “Before being elected for the first time, 20 years ago, there were fears in the business and financial sector of Brazil and Washington, who feared that radical unionist background”.

But it turned out to be “a surprise for everyone”, he considered.

During Lula’s mandates, “Brazil and the Brazilian economy went to the stratosphere, paid the debts to the IMF” [International Monetary Fund] and promoted the “dramatic reduction of poverty”, said Ramos-Horta.

Now and after Sunday’s elections, “the worst that can happen” would be policies of “discrimination and exclusion or persecution”, as “they did to Lula”, said Ramos-Horta about the judicial accusations against the elected President.

“Lula will not respond in the same way” and “will embrace others”, including opponents, but he will also bring the country to the international scene with new breath, in a context of various crises, as is the case of Myanmar [formerly Burma], which “is in a catastrophic situation”, or the South China Sea, “excessively militarized by everyone” and where Taiwan’s situation vis-à-vis China “could lead to imprudence”, because “conflicts sometimes happen by accident”.

“I was with António Guterres [UN Secretary General] more than a month ago, and it was clear from his face” that he was “very worried, pessimistic in relation to the evolution of the war in Ukraine”.

This constitutes a diplomatic opportunity for Brazil, which is part of the BRICS bloc (Brazil, Russia, India, China and South Africa) considered.

“With Lula, Brazil will first have to start a dialogue with its neighbors, with the United States, restore relations with the European Union and, in particular, with countries like France and England, which are on the Security Council” , but also “talking to [Russian President Vladimir] Putin, mobilizing [President Recep Tayyip] Turkey’s Erdogan, mobilizing Indonesia, or [Prime Minister Narendra] Modi of India to try to defuse the situation in Ukraine and Russia”, said the Timorese President, who recognized the difficulties of an agreement.

The world must insist on “at least a ceasefire” on the ground, without binding the parties to permanent concessions, without more “movement of forces on one side or the other, and this would immediately allow, with a break in the conflict, to normalize the situation of exports and imports”, proposed Ramos-Horta.

“This, of course, in my appreciation that there is some common sense in Putin, but I think that Putin, if he has incentives to back down, he will back down. Because he is not going to win this war, he is ruining Russia”, said Ramos-Horta.

Everything that Vladimir Putin “managed to do in Russia throughout his term is now being destroyed”, he underlined.

However, “Putin needs to be given ways to retreat” and, for that, it is necessary that the Ukrainians do not insist on a greater involvement of Western forces.

The Ukrainian President, Volodymyr Zelensky, cannot think that he will “win this war with greater NATO involvement”, because “it will not”, it will only “destroy Ukraine and Russia even more”.

For this reason, due to the dialogue role he has, Lula is in a position to “bring the parties” to dialogue, including China. “Brazil can do it and this will help a new world axis, which no longer revolves only around the United States or Russia or China”.

“Brazil with India, with South Africa, with Indonesia”, South Korea or others, can create “a new multipolar axis, of various countries in various regions of the world, which are large economies and which represent the most of the world’s population,” said Ramos-Horta.

Portuguese: 

Ramos-Horta apela a Lula da Silva para promover a paz no Brasil e também na Ucrânia

Lisboa, 03 nov 2022 (Lusa) – O Nobel da Paz José Ramos-Horta afirmou hoje que Lula da Silva deve combater a polarização, considerando-o o líder ideal para pacificar o Brasil, mas também ajudar na resolução de tensões internacionais, como na Ucrânia.

“Eu não conheço o Presidente [Jair] Bolsonaro e nem a equipa dele. Espero que na derrota ele mostre que é maior que do que as pessoas pensam, um maior estadista do que nós todos pensávamos e tudo faça para que a transição seja pacífica”, afirmou, em entrevista à Lusa José Ramos-Horta, de visita a Lisboa.

O Presidente timorense elogiou o vencedor das eleições brasileiras Luiz Inácio Lula da Silva e a sua capacidade para estabilizar o Brasil.

“O Presidente Lula sempre revelou a essa sua magnanimidade, esse seu sentido de pragmatismo”, afirmou Ramos-Horta, lembrando o percurso do político na presidência brasileira: “Quando foi eleito primeira vez e antes ser eleito primeira vez, há 20 anos, havia receios no setor empresarial e financeiro do Brasil e Washington, que temiam aquele background radical de sindicalista”.

Mas acabou por ser “uma surpresa para todos”, considerou.

Nos mandatos de Lula, “o Brasil e a economia brasileira foi à estratosfera, pagou as dívidas ao FMI” [Fundo Monetário Internacional] e promoveu a “redução dramática da pobreza”, disse Ramos-Horta.

Agora e depois das eleições de domingo, “o pior que pode acontecer” seriam políticas de “discriminação e exclusão ou perseguição”, como “fizeram ao Lula”, disse Ramos-Horta sobre as acusações judiciais de que foi alvo o Presidente eleito.

“Lula não vai responder de igual maneira” e “vai abraçar os outros”, incluindo os opositores, mas também trará o país à cena internacional com novo fôlego, num contexto de várias crises, como é o caso de Myanmar [antiga Birmânia], que “está numa situação catastrófica”, ou o mar do Sul da China, “excessivamente militarizado por todos” e onde a situação de Taiwan face à China “pode levar a imprudências”, porque os “conflitos às vezes acontecem por acidente”.

“Estive com o engenheiro António Guterres [secretário-geral da ONU], há mais de um mês, e via-se na cara dele” que estava “muito preocupado, pessimista em relação à situação da evolução da guerra da Ucrânia”.

Isso constitui uma oportunidade diplomática para o Brasil, que integra o bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) considerou.

“Com Lula, o Brasil vai ter que primeiro começar o diálogo com os seus vizinhos, com os Estados Unidos, restaurar as relações com a União Europeia e, em particular, com países como a França e Inglaterra, que estão no Conselho de Segurança”, mas também “falar com [o Presidente russo, Vladimir] Putin, mobilizar [o Presidente Recep Tayyip] Erdogan da Turquia, mobilizar a Indonésia, ou o [primeiro-ministro, Narendra] Modi da Índia, para tentar desarmar a situação na Ucrânia e Rússia”, defendeu o Presidente timorense, que reconheceu as dificuldades de um acordo.

O mundo deve insistir “pelo menos num cessar-fogo” no terreno, sem vincular as partes a cedências permanentes, sem mais “movimentação de forças de um lado ou do outro, e isto de imediato permitiria, com uma pausa no conflito, normalizar a situação das exportações e importações”, propôs Ramos-Horta.

“Isto, claro, na minha apreciação de que há algum bom senso no Putin, mas eu creio que Putin, se tiver incentivos para recuar, ele recuará. Porque não vai ganhar essa guerra, ele está a arruinar a Rússia”, disse Ramos-Horta.

Tudo o que Vladimir Putin “conseguiu fazer na Rússia ao longo do seu mandato está agora sendo destruído”, sublinhou.

No entanto, é “preciso dar a Putin formas de recuar” e, para tal, é necessário que os ucranianos não insistam num maior envolvimento das forças ocidentais.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não pode achar que vai “ganhar esta guerra com um maior envolvimento da NATO”, porque “não vai”, apenas irá “destruir mais ainda a Ucrânia e a Rússia”.

Por isso, pelo papel de diálogo que tem, Lula tem condições para “trazer as partes” ao diálogo, incluindo a China. “O Brasil pode fazê-lo e isto ajudará um novo eixo mundial, que já não gira apenas em torno dos Estados Unidos ou da Rússia ou da China”.

“O Brasil com a Índia, com a África do Sul, com a Indonésia”, a Coreia do Sul ou outros, podem criar “um novo eixo multipolar, de vários países em várias regiões do mundo, que são grandes economias e que representam a maior parte da população mundial”, afirmou Ramos-Horta.

PJA // EJ – Lusa/Fim